domingo, julho 24, 2005

A crise

PAULA MACEDO

Arrastamo-nos, há já muito tempo, numa crise duradoura da qual não se vislumbra uma saída fácil. Para a maioria dos analistas e comentadores que os media consagraram, falta-nos competitividade e, para além disso, quase tudo. Acredito que, no fundo, somos, de certa forma, o país das oportunidades perdidas, que vive em constante autofagia de recursos. No entanto, quem tem culpa desta situação? Seremos, como dizia o Sr. Fernando Ulrich (o presidente do BPI), um povo que não se preocupa e mobiliza para a competitividade e crescimento, que quer é passar mais tempo na praia e que devia ver os vencimentos reduzidos em dez por cento? Ou somos o povo que, quando emigra e se vê a trabalhar para empresários que não procuram ganhar o máximo no mínimo tempo possível, prova que é capaz, produtivo e dedicado? Somos, com certeza, um pouco disso tudo.

Mas somos, sobretudo, mal dirigidos.

Quando nos esforçamos e trabalhamos mais, quando "vestimos a camisola" e procuramos atingir os objectivos que nos são propostos, damos normalmente o máximo. O problema é que, depois, não temos recompensa. Os nossos grandes empresários acenam-nos com a crise e o desemprego, garantem-nos que não fazemos mais que cumprir a nossa obrigação e que a manutenção do posto de trabalho já é a grande recompensa. Mas, então, porque será que existem tantos idiotas inúteis com bons empregos e melhores vencimentos? Porque será que os apelidos "sonantes" acabam por preencher os cargos melhor remunerados das empresas?

O BPI aumentou os seus lucros em 22 por cento no primeiro semestre. Os funcionários do banco, seguramente, trabalharam mais do que o contratualmente previsto, fizeram inúmeras horas extraordinárias não remuneradas e afadigaram--se na procura de novos clientes e contratos (o costume nas empresas portuguesas). Aumentaram os resultados, mas o patrão deles acha que os portugueses devem receber menos dez por cento. Ou no banco do Sr. Ulrich só trabalham estrangeiros, ou há algo que não bate certo.

Portugal precisa de ruptura. Ruptura com os interesses instalados, com as "cliques" partidárias, com as famílias que querem, podem e mandam. Precisamos, é certo, de empresários prósperos. Não precisamos é de gente que engorda à custa do Estado, em contratos em que os custos se multiplicam e excedem o que seria razoável admitir, levando o nosso (dos impostos) dinheiro, e o que para cá é canalizado pela União Europeia, para as contas bancárias de alguns. Como portuguesa que quer viver, feliz, no seu País, estou farta de tanta incompetência e corrupção à minha volta.

Do que Portugal não precisa, seguramente, é de pessoas como o Sr. Ulrich, que não gosta de portugueses e, no seu íntimo, os despreza. Porque, com gente desta, Portugal está a matar o melhor que tem (o que qualquer país tem): a auto-estima e a esperança num futuro melhor.

http://www.acapital.pt/
24-07-05

sábado, julho 23, 2005

Como diz o nosso filósofo José Gil

Há uns dias atrás um amigo enviou-me um e-mail a perguntar se a falta de inspiração era a razão pela qual desde 14 de Julho passado não havia nada de novo neste blog. Como é natural fiquei satisfeito por saber que pelo menos um amigo tinha visitado o blog. E não, não é por falta de inspiração, mas por falta de tempo que não tenho colocado mais nada no blog. Todos os dias, ou quase entro aqui para colocar algo, mas há sempre um filho a fazer-me saír daqui. E só tenho dois, mas estão numa idade muito exigente, penso eu agora... Ela tem sete anos, é caranguejo e ele tem quatro e é touro. Não é que eu ligue muito aos signos, mas acho curiosas e até interessantes algumas coencidências.

Agora voltando ao que interessa, a notícia de primeira página do Expresso ( "espesso" nalguns círculos de comentadores online) de hoje deu-me um pouco de satisfação. Isto porque já estou a contar com uma candidatura à presidência da república que realmente une uma muito grande percentagem de portugueses. Mário Soares é uma das pessoas mais importantes na história do nosso país no pós 25 de Abril de 1974. Se ele decidir candidatar-se será uma fonte de energia positiva para a maioria de nós que somos Povo, pobre e sem esperanças em quem dirige os destinos do país, logo os destinos das novas gerações, logo dos nossos filhos.


Os que têm filhos sabem que o que mais educa, ou seja, o que mais influencia o comportamento das crianças, são os exemplos dos mais velhos, dos pais em particular, mas também dos restantes elementos da família, dos professores e de todos os que têm visibilidade na sociedade. E numa sociedade tão mediatizada como aquela em que vivemos actualmente, toda a gente que aparece nos meios de comunicação social, especialmente na televisão, tem uma grande influência nos jovens. Nos jovens e nos adultos “analfabetos” digamos assim, aqueles que não têm capacidade ou não têm vontade de usar a sua própria cabeça para questionar e por sua vez ter ideias próprias. Ora, infelizmente hoje em dia são pouquíssimos os bons exemplos aos quais a comunicação social dá destaque. Aquilo que faz decidir a importância da pessoa é normalmente, salvo raríssimas excepções, as audiências que essa mesma pessoa atrai. E como sabemos, a população portuguesa, com uma taxa de analfabetismo funcional na ordem dos 50 % quer é sangue e lágrimas alheias para esquecer a sua própria miséria, seja material ou espiritual. Como diz o nosso filósofo José Gil, no livro Portugal Hoje o Medo de Existir, “… a televisão portuguesa é como toda a gente sabe (e salvo raríssimas excepções que toda a gente também conhece) uma pura miséria, uma máquina de fabricação e sedimentação de iliteracia..”

É por tudo isto e muito mais que espero que Mário Soares, um dos portugueses a quem mais devemos no nosso caminho pela liberdade e democracia, se candidate contra um dos portugueses que mais responsabilidade tem nesta miséria social e espiritual na qual hoje o país se afunda. Teve tudo, dinheiro e poder, para dar a Portugal um CAMINHO, e só consegui foi dar alcatrão, cimento, yuppis e novos-ricos, patos bravos ( e patas, muitas patas) vestidos de fatos e dentro de mercedes, bm’s jipes e jaguares…Os pobres são cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

quinta-feira, julho 14, 2005

FOME


O que é a fome ?
A fome é a escassez de alimentos que, em geral, afeta uma ampla extensão de um território e um grave número de pessoas.
No mundo:
Cerca de 100 milhões de pessoas estão sem teto;
1 bilião de analfabetos; 1,1 bilião de pessoas vivem na pobreza, destas, 630 milhões são extremamente pobres, com rendimento per capita anual bem menor que 275 dólres;
1,5 bilião de pessoas sem água potável;
1 bilião de pessoas passando fome;
150 milhões de crianças subnutridas com menos de 5 anos (uma para cada três no mundo);
12,9 milhões de crianças morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida;

Causas naturais:
Clima;
Seca;
Inundações;
Terremotos;
As pragas de insetos e as enfermidades das plantas.

Causas humanas:
Instabilidade política;
Ineficácia e má administração dos recursos naturais;
A guerra;
Os conflitos civis;
O difícil acesso aos meios de produção pelos trabalhadores rurais, pelos sem-terras ou pela população em geral;
As invasões;
Deficiente planificação agrícola;
A injusta e antidemocrática estrutura fundiária, marcada pela concentração da propriedade das terras nas mãos de poucos;
O contraste na concentração do rendimento e da terra num mundo subdesenvolvido;
A destruição deliberada das colheitas;
A influência das multinacionais de alimentos na produção agrícola e nos hábitos alimentares das populações de Terceiro Mundo;
A utilização da "diplomacia dos alimentos" como arma nas relações entre os países;
A relação entre a dívida externa do Terceiro Mundo e a deteriorização cada vez mais elevada do seu nível alimentar;
A relação entre cultura e alimentação.

Causas da fome crónica e desnutrição Pobreza;
Distribuição ineficiente dos alimentos;
Reforma agrária precária;
Crescimento desproporcional da população em relação à capacidade de sustentação.
Fome infantil
Cerca de 5 a 20 milhões de pessoas falecem por ano por causa da fome e muitas delas são crianças.

Classe dominante
Alterar essa situação significa alterar a vida da sociedade, o que pode não ser desejável, pois iria contrariar os interesses e os privilégios em que se assentam os grupos dominantes. É mais cómodo e mais seguro responsabilizar o crescimento populacional, a preguiça do pobre ou ainda as adversidades do meio natural como causas da miséria e da fome no Terceiro Mundo.
http://www.webciencia.com/13_fome.htm

segunda-feira, julho 11, 2005

Homo sum: humani nihil a me alienum puto

"Não importa de onde vimos nem qual a nossa filosofia de vida, todos nos sentimos tristes, uns mais, outros menos, quando ouvimos falar do sofrimento alheio"

Dalai-Lama
in Ética para o novo milénio

sexta-feira, julho 08, 2005

A memória ainda morre depois da esperança

A memória ainda morre depois da esperança, como ouvi alguém dizer à pouco tempo, e por isso, se já perdemos a esperança nos que lideram o país, resta-nos a memória dos nossos antepassados que nos vai dar coragem para uma nova revolução. Desta vez ainda mais pacífica do que o 25 de Abril de 1974. Desta vez vai ser através das regras da "democracia". Constitucionalmente. Através das urnas. Vamos, nós, os patriotas livres das máquinas partidocráticas, tomar o poder. Vamos começar pelas autarquias com listas de cidadãos independentes. Depois de já haver mais democracia vamos alterar a constituição para que o governo da nação saia das mãos da "nobreza" partidocrática para as mãos do povo. Do verdadeiro povo, que ainda nunca teve o poder nas mãos.
Porque, por mais que os nobres pretendam, a luta de classes continua, e os nobres têm usufruído dos métodos capitalistas para acalmar o povo. Não o povo corajoso e forte, mas o povo fraco que pelo facto de ter um BMW ou um Mercedes já se julga da nobreza e por isso renega as suas origens e a sua classe.
Se pensarem bem, são os filhos e os netos daqueles que perderam os privilégios em 5 de Outubro de 1910 que ainda estão nos lugares chave do poder e da influência no nosso país. Claro que ainda lhes está atravessada na garganta a perda. E claro que continuam a defender os interesses dos seus e a usar e abusar do povo.
Deixem-se de ilusões, a luta de classes tem que continuar até que seja realmente o povo a mandar no seu destino. O povo somos mais de 85 % da população. Que raio, não vêem que nos têm andado a mandar areia para os olhos ?