A crise
Arrastamo-nos, há já muito tempo, numa crise duradoura da qual não se vislumbra uma saída fácil. Para a maioria dos analistas e comentadores que os media consagraram, falta-nos competitividade e, para além disso, quase tudo. Acredito que, no fundo, somos, de certa forma, o país das oportunidades perdidas, que vive em constante autofagia de recursos. No entanto, quem tem culpa desta situação? Seremos, como dizia o Sr. Fernando Ulrich (o presidente do BPI), um povo que não se preocupa e mobiliza para a competitividade e crescimento, que quer é passar mais tempo na praia e que devia ver os vencimentos reduzidos em dez por cento? Ou somos o povo que, quando emigra e se vê a trabalhar para empresários que não procuram ganhar o máximo no mínimo tempo possível, prova que é capaz, produtivo e dedicado? Somos, com certeza, um pouco disso tudo.
Mas somos, sobretudo, mal dirigidos.
Quando nos esforçamos e trabalhamos mais, quando "vestimos a camisola" e procuramos atingir os objectivos que nos são propostos, damos normalmente o máximo. O problema é que, depois, não temos recompensa. Os nossos grandes empresários acenam-nos com a crise e o desemprego, garantem-nos que não fazemos mais que cumprir a nossa obrigação e que a manutenção do posto de trabalho já é a grande recompensa. Mas, então, porque será que existem tantos idiotas inúteis com bons empregos e melhores vencimentos? Porque será que os apelidos "sonantes" acabam por preencher os cargos melhor remunerados das empresas?
O BPI aumentou os seus lucros em 22 por cento no primeiro semestre. Os funcionários do banco, seguramente, trabalharam mais do que o contratualmente previsto, fizeram inúmeras horas extraordinárias não remuneradas e afadigaram--se na procura de novos clientes e contratos (o costume nas empresas portuguesas). Aumentaram os resultados, mas o patrão deles acha que os portugueses devem receber menos dez por cento. Ou no banco do Sr. Ulrich só trabalham estrangeiros, ou há algo que não bate certo.
Portugal precisa de ruptura. Ruptura com os interesses instalados, com as "cliques" partidárias, com as famílias que querem, podem e mandam. Precisamos, é certo, de empresários prósperos. Não precisamos é de gente que engorda à custa do Estado, em contratos em que os custos se multiplicam e excedem o que seria razoável admitir, levando o nosso (dos impostos) dinheiro, e o que para cá é canalizado pela União Europeia, para as contas bancárias de alguns. Como portuguesa que quer viver, feliz, no seu País, estou farta de tanta incompetência e corrupção à minha volta.
Do que Portugal não precisa, seguramente, é de pessoas como o Sr. Ulrich, que não gosta de portugueses e, no seu íntimo, os despreza. Porque, com gente desta, Portugal está a matar o melhor que tem (o que qualquer país tem): a auto-estima e a esperança num futuro melhor.
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24-07-05