sexta-feira, fevereiro 02, 2007

“Portugal pertence ao grupo de países da União Europeia com menor percentagem de empregados na função pública”








Há uns tempos atrás, uma “revista de referência da nossa praça” publicou um quadro, com dados da Fundação Robert-Shuman, com a seguinte informação: “Portugal pertence ao grupo de países de União Europeia com menor percentagem de empregados na função pública”. Enquanto que na Dinamarca, a percentagem é de 39,5, na Suécia 38, na Irlanda 21 e em Espanha 18, em Portugal é tão só 17,5.
Os dados foram retirados de uma instituição insuspeita, e publicados numa revista do grupo Impala.
Aquilo que à primeira vista se pode concluir, é que os países nórdicos, modelos sociais, ao que parece, exemplares para a maioria do mundo, não servem de exemplo nesta significativa componente de organização das suas sociedades.
Nesta altura apetece-me fazer uma analogia entre as famílias e os povos. No fundo é nas famílias que se vêem de forma nuclear as sociedades. Na minha opinião, o Estado como organização expoente das sociedades humanas, é o progenitor. Se o progenitor não proteger os seus rebentos, estes vão ser agressivos, não vão ter educação e quando estiverem doentes, vão desfalecer. Se o Estado não proteger os cidadãos, os mais fracos não terão hipótese de sobreviver, aliás, como acontece no reino animal.
Pelo facto de haver muitas pessoas a contribuírem para o bem estar de todos, os funcionários públicos tanto na Administração central como local, pelo facto de haver maior estabilidade numa grande percentagem de cidadãos, os povos são mais pacíficos, e têm mais tempo e energia para se dedicarem a outras actividades produtivas, pois não andam na luta pela sobrevivência. Por isso também o PIB desses países é elevado. Por isso a qualidade de vida desses povos é elevada.
No nosso Portugal, a instabilidade que se criou no mercado de trabalho em geral e na função pública em particular, está a transformar este povo pacífico que sempre fomos, num “náufrago” egoísta que é capaz de tudo para salvar a sua própria pele. E o povo não vê no Estado um progenitor mas sim um agressor do qual é necessário proteger-se e, sempre que se puder, “atacar”. Se como cidadão não sinto que o Estado dê, porque é que eu vou dar ao Estado ?

Que tipo de sociedade pretendemos ter no futuro próximo ? Que tipo de pessoas pretendemos que sejam os nossos filhos, as futuras gerações ?
Quem diz que se deve retirar do Estado as funções que são esperadas dos progenitores, só pode ser egoísta. Só a mentalidade da sociedade materialista/consumista pode imaginar uma sociedade selvática em que as espécies se reproduzem por instinto e logo de seguida se abandonam as “crias” para subsistirem por si sós.
Afinal é uma selva aquilo que os “fortes”, os “ricos”, os “poderosos”, pretendem que seja a sociedade humana. Exactamente onde os mais fortes dominem e os restantes sejam presas…fáceis.
A ideia é mais ou menos esta; têm tentado, com insistência propagandista, (uma mentira tantas vezes dita torna-se uma “verdade”) convencer-nos de que se Portugal não tiver Estado, ou seja, em última instância, se não tiver funcionários públicos, pode ter ambições de vir a ter indicadores económicos com performances das economias ricas da União Europeia. Ora, isto é mesmo atirar areia para os olhos dos distraídos.
Costumo dar o exemplo dos vários campeonatos de futebol. Não é que eu seja amante de futebol, ou conhecedor do ramo, mas parece-me simples a explicação: suponhamos que somos treinadores de uma equipa da terceira regional, ou mesmo da terceira nacional. Quais seriam as nossas hipóteses de pretendermos que a nossa equipa pudesse sequer ter ilusões de poder vir a competir com as equipas da primeira divisão ???? Dentro de quanto tempo ?
Na minha óptica, o que os “líderes” do nosso país estão a pretender é que a economia portuguesa (“da terceira regional”), tenha ilusões de ganhar, ou pelo menos entrar, na primeira divisão, assim como que de um ano para o outro, ou de um mandato governamental para o próximo…bastando para isso os “sacrifícios” dos funcionários públicos e de uma classe média cada vez mais inexistente…


Como dizia o grande poeta. José Régio no seu Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
de que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)

……..

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

Aos funcionários públicos do meu país que assumem a sua função como uma missão de serviço ao nosso Portugal, MUITO OBRIGADO.